sábado, 3 de maio de 2008

Tenho uma opinião bem singela sobre a poesia. Acho linda a disposição das palavras de quem sabe lidar com as mesmas, um eu-poético por natureza. O que acontece é que eu vejo da seguinte forma: quando lemos uma poeisa de um GÊNIO, autores eternos (entre meus prediletos, José Saramango e Álvares de Azevedo) vemos que toda aquela obra é pra sempre, tem um ar de poesia mesmo, mas quando lemos uma poesia de 'pessoas comuns' (eu, você), por melhor que seja, eu sempre penso 'é, uma boa , mas não algo genial'. Talvez seja por isso que eu não me arrisco com tanta frequência nesse mundo de metáforas.

Mas, em digna homenagem aos momentos que me aventurei, exponho duas. Uma 'romanticamente triste' e uma 'supostamente feliz'. Um Curinga.

Te quiero com lemón

Xícaras de cafeína com marcas de batom
Da boca que não provei um 'adeus'
À belprazer, não chego a ver
Pois com o fim da madrugada
Vão-se as gotas d'orvalho dos ventos meus
Vai-se você

Peno em acordar
Travo guerras e batalhas
Melho paralisar
A cair no mundo sem asas

Decido-me: não levantarei
Anseio por esperar
Quando sorrateira adentrará em meu quarto
Com as chaves que eu mesmo lhe dei
Chaves elas, que por magia só parecem funcionar
Ao escurecer
Não destrancando portas durante o dia
Só a do meu coração

Essa, eternizar-se-á límpida
Figurante em noites escuras
Como as gotas d'orvalho


Maré do tempo

Vamos todos poetizar!
Emaranhar frases no ar
Misóginas palavras dizer
Pouco a ganhar, mas nada a perder

Temos vida, temos história
Ações espertas e estúpidas
Olhares fugazes e lágrimas à pino
Tudo na mente, horror e bonança
Ora, todos não temos nosso livro de lembranças?

No passado mofado
Um aspirador de lembranças
Relembrar o que marcou
(Torpor que percorre quem sou)
Associar alguém à um mágico momento
Mandar-lhe beijos ao vento

O presente proferir em eterna descrição
A na boca narrativa, um sorriso em ascensão
Os pés formigando, mente em profusão
À mil por hora, correr na contramão
Vislumbrar rostos céticos na rua
Tocar a face da lua

O futuro, uma seqüência
Que virará presente, virará passado
Válvula de escape, nossa fuga fugaz
Com olhos brincalhões esperar o melhor
Com mãos apresadas peseguir nossos insights
Antes que o despertador toque e percamos o bom humor
Humor dos sonhos, onde o que queremos, somos
A família modelo, promoção no emprego
E, se porventura nada der certo
Virar charlatão com filosofia de boteco!


As outras (pior: existem outras) continuam reservadas à sete chaves em um arquivo-fantasma. :*