Primeiro vem a baforada de vento no rosto, expressivo, na maioria. Vento frio, do norte, ou em rajadas mornas e suaves, como que arrancado do litoral caribenho. Quem sabe até, carregado de folhas secas do outono, que colam aos lábios antes que os mesmos se fechem pelos poucos segundos seguintes. Logo depois, o salto.
Nesse ponto é onde o chão parece abrir sob nossos pés, e afundamos sem pesar, pesando como elefantes. Como gosto das bolhas! Aquelas, subsequentes à nossa entrada na água, que passam ligeiras por nossa pele. São alguns poucos segundos, encantadores. Sim, sejamos poéticos!
Os pés tocam o chão, ou não. O corpo, não mais leve, retorna à superfície. Raios ultravioletas sem dó.Enche-se os pulmões de ar, como um recém-nascido que respira pela primeira vez. Torturante, quando a magia se perde. O calor vem com uma força surpreendente e nos sentimos aquecidos de novo. Os braços se movem, direito, esquerdo, direito, eaquerdo, direito, esquerdo, num esquema já conhecido e como se elaborado por generais para com suas tropas de batalha. Todo o corpo se move, perfeita sincronia. E o riso, mesmo que escondido entre lábios e dentes, é inevitável. Riso de satisfação. Riso de libertação. Riso.
Deixemos o ceticismo de lado. Não é somente um salto na água. É nosso momento de emancipação por alguns segundos, ouvindo o 'nada' e de olhos bem fechados, abaixo da tênue linha que separa um universo de outro, onde não somos líderes, somos, apenas, seres flutuantes que esquecem de tudo entre moléculas de H²O.

